AMOR · CONTOS · VIDA A DOIS

Vai ficar por quanto tempo? Preparo um café ou preparo a minha vida?

Fiquei na sacada observando você sumir na esquina levando contigo a barba mais mal feita e a voz mais rouca do mundo, eu daqui do meu mundo, sem mais, só sendo eu e deixando você ir com a mala ausente das minhas respostas, das minhas expectativas, das minhas paixões. Desculpas, meu amor, mas, acho que me esqueci de te perguntar por quanto tempo você ficaria por livre e amorosa vontade.

Não tenho muito que dizer quando não há certo amor envolvido, aliás, até quando existe amor. Não aprendi a imprimir as minhas palavras e lê-las em voz alta para que você se sinta um cara melhor, eu não sei fazer você ficar e não posso te fazer me amar. Não me veja como um pilar sentimental, não me peça concelhos sobre a vida e sobre qual cor combina melhor com esses teus olhos mais lindos de todos os tempos ou sobre mim mesma. Não tente fazer o meu lado manipulador despertar daqui de dentro e sai por ai exibindo o meu ego gigante nas minhas relações amorosas. Deixa a minha paz reinar sem que eu estrague tudo sempre.  Eu não tenho culpa pelo seu não-amor. Veja bem, você veio aqui, conheceu os meus dramas, dormiu nas minhas emoções, provou da minha rotina, se empanturrou com as minhas historias banais, bebeu dos meus sorrisos, passeou pelo mundo com as minhas piadas bobas e não conseguiu se apaixonar por mim e ninguém tem culpa no cartório por isso. É a vida, amor.

Eu não posso fazer você gostar da minha falta de tempo pra tudo por que eu acho bacana gastar o meu tempo fazendo de tudo do que o usando pra nada e você nunca quis muito entender isso. Você não é obrigado a gostar do meu estilo de vida gastronômico e nem das minhas músicas paradas lá pelos anos sessenta. Eu não posso fazer você me amar porque não sou romântica o suficiente pra insistir na tua porta até que você me abra uma chance pra te fazer feliz. Não posso fazer você feliz porque ainda tô aprendendo fazer isso por mim mesma e você não tolera pessoas egoístas na tua vida. Tudo bem pra mim, juro.

Não posso fazer você me amar porque, no finalzinho das minhas contas, você nem é tudo que eu sempre quis, e eu não posso te encher de mim já que não sei bem se quero você pra vida, entende? É uma coisa minha isso. Eu coleciono sentimentos de pessoas, de cada amor, um tom. De cada discurso, uma frase. De cada beijo, uma sensação. De cada pessoa, um pouco de mim ou do que acredito que possa se tornar uma parte maior minha. Você é todo gigante, têm esses olhos bonitos, essa risada toda torta de tanto sorrir pelos cantos e essa tua visão fosca de enxergar o mundo. Eu já sou diferente, não sou do tipo de mulher que deixa marcas, sempre nadei pelas tuas águas sem poluir os teus oceanos com as minhas magoas, sempre cuidei pra não te machucar como quem passa pela vida de alguém portando aqueles medos danados de quebrar a pessoa. Desculpas, amor.

Chamo de amor pra não chamar de distancia, pra não me lembrar da saudade que sinto dos teus ecos no meu apartamento, dos teus timbres, tuas cores, tuas fases e entrelinhas. Eu falo isso com toda licença poética possível para que eu não escute o barulho da tua chave girando na porta e eu gritando toda gasguita de dentro do coração: Entra meu amor, mas, dessa vez…

Vai ficar por quanto tempo? Preparo um café ou preparo a minha vida?

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